Como Iniciei Minhas Pesquisas

Meu nome é Antônio Carlos Glück, sou natural de Imaruí (SC) e cresci em Laguna, terra de Anita Garibaldi, que, por sinal, aparece na minha genealogia. Minha infância foi marcada pelo fato de nunca saber muito sobre meu sobrenome ou minhas origens. Por motivos que em outro momento irei comentar, minha família, os Glück, acabou se estabelecendo em Imaruí. Meu bisavô morava com a família numa ilha, a Ilha Vieira, situada na lagoa de Imaruí. Lembro de, na infância, sempre perguntar ao meu pai, tios e familiares como o Jacob havia ido parar lá. De onde ele vinha? Falava alemão? Meu avô falava alemão? Tinham aprendido alguma coisa? A resposta era sempre a mesma: “O Jacob veio da Alemanha casado, ou viúvo, com seu avô, e parece que havia mais um filho (ou filha, ninguém sabia ao certo). Depois ele se casou novamente e teve mais filhos. Vieram fugidos da guerra.” Mas... de qual guerra? Meu avô, ao que sabíamos, nascera em 1916 — logo, só poderia ter relação com a Primeira Guerra Mundial. Parecia fazer sentido. Imaruí, no entanto, é uma cidade de origem portuguesa, e quase todos os que moravam na localidade de Ponta Grossa eram parentes, tanto do lado do meu pai quanto da minha mãe — que, aliás, eram primos por ambos os lados. Uma verdadeira confusão genealógica! Além disso, não conhecíamos outros alemães na região — exceto uma única família, que também nada sabia sobre a nossa. Com o tempo, acabei deixando o assunto de lado. Mas em 1998, viajei para a Europa, onde permaneci por três anos (essa história conto depois). Antes de partir, peguei um pequeno caderno de brochura — daqueles antigos, usados nas escolas — e sentei-me com minha mãe. Ela sempre teve memória prodigiosa: sabia tudo sobre sua família (que, por coincidência, também era a do meu pai). Foi ela quem me passou os nomes de tataravós, tios e primos de todos os lados. Incrível! Guardei essas anotações, mas nunca as esqueci. Por volta de 2002 ou 2003, já com um computador em casa, comecei a digitalizar as informações. Com o avanço da internet, a possibilidade de pesquisa aumentou — e retomei minhas investigações. Em 2 de novembro de 2015, enquanto fazia trabalhos da faculdade, resolvi fazer uma pausa. Já anoitecia e eu ainda iria acender as velas para os meus falecidos, como sempre faço nesse dia. Olhando para o retrato do meu avô, disse: “Bem que o senhor poderia me ajudar de alguma forma e me dar um caminho.” Peguei todas as anotações — que já eram muitas. Havia encontrado pessoas com o mesmo sobrenome Glück no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e também em Santa Catarina. Os de Santa Catarina estavam mais próximos da minha cidade natal, então concentrei meus esforços neles. Os nomes, contudo, eram bem germânicos, e o do meu avô — Jacob — destoava um pouco. Alguns familiares cogitavam que poderíamos ter origem judaica. (Mas a história sobre meus antepassados judeus — portugueses e holandeses — fica para outro momento.) Já havia tentado de tudo quando recebi uma ligação do meu sobrinho, de Laguna. Ele contou que, durante uma negociação pela internet, o comprador comentou sobre o sobrenome “Glück”. Ao saber de onde ele era, o homem respondeu que sua avó — também uma Glück — falava sempre de um tio chamado Jacob, casado com Candinha, que morava numa ilha em Imaruí, e que tinham filhos chamados Manoel e Benta. Meu sobrinho, sem saber muito, confirmou que a família era de Imaruí e passou o meu contato. Liguei, e foi aí que tudo mudou: descobri que aqueles Glück de Santa Catarina eram, de fato, da mesma família — irmãos do meu bisavô! Soube também que ele se chamava Jacob em homenagem ao avô holandês de mesmo nome. Desde então, já se passaram dez anos de pesquisa incessante. Consegui reunir documentos e registros que remontam a 1646! Ah, e descobri mais: Meu bisavô não veio da Alemanha — ele nasceu em Rio Fortuna (SC). Sua primeira esposa (minha bisavó) faleceu no parto na mesma Ilha Vieira. Depois, ele se casou novamente. Em fevereiro de 2016, fui visitar meus primos em São Martinho — e pensem numa comida boa, bem alemã! Eles ainda falam alemão entre si, e eu fico apenas observando. Nossa criação foi católica, ribeirinha e portuguesa, enquanto nossos antepassados eram luteranos, colonos e alemães. Tal mistura, na época, não deu muito certo — o que explica por que meu bisavô ficou sozinho em Imaruí, enquanto o resto da família partiu e nunca mais se comunicaram. Coisas comuns em tempos de colonização. Mais tarde, conheci o CEO da Schmoeller Consultoria, enquanto buscava informações sobre uma das irmãs do meu bisavô, casada com um Schmoeller. E foi assim que, et voilà, começamos a ajudar outras pessoas a descobrirem suas raízes — e, quem sabe, realizarem o sonho da dupla cidadania. Hoje, tenho vários projetos culturais ligados à imigração alemã, buscando resgatar não apenas a história da minha família, mas também de tantas outras esquecidas pelo tempo. Sou fascinado por genealogia. E você? Já pensou em descobrir suas origens? No próximo texto, falarei um pouco sobre como funciona o processo da pesquisa genealógica. Quem sabe você se anima a começar a sua — ou talvez nos procure para ajudar nessa jornada! Até a próxima.

Antônio Carlos Glück

5/8/20241 min read